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A Culpa de Todos Nós_ por Rosemeire Zago

e



“Com a culpa sempre vem a necessidade, ainda que inconsciente, de autopunição”
Mas, nem sempre temos essa consciência e, na maior parte do tempo, os erros cometidos são transformados em culpas. Alguns passam a vida errando, se culpando. Outros sendo vítimas dos erros dos outros, e culpando-os.
Outros não fazem nada ou em tudo que fazem, são culpados. E outros ainda, para justificarem seus próprios erros, nos culpam.
Que loucura, não?

Culpa é o sentimento de ser indigno, mau, ruim, carrega remorsos e censuras. A culpa é o resultado de muita raiva guardada que se volta contra nós mesmos. Poderíamos resumir assim:
Raiva + mágoas reprimidas = culpa = autopunição

A culpa de todos nós! Parte II


Estamos geralmente nos culpando pelo que fizemos ou não fizemos


Em outras situações, a culpa
se faz presente quando
buscamos culpados pelo
que aconteceu ou não em
nossas vidas. Ou ainda,
somos culpados pelo que
acontece a outra pessoa.
Ou seja, a culpa pode ser
gerada em quatro situações:
culpa pelo que fizemos e não fizemos; culpa que atribuímos
e que nos é atribuída.

Culpa pelo que fizemos
Há pessoas que assumem todas as culpas para si. Vivem
gritando em silêncio: “é tudo culpa minha”, como se fossem
grandes mártires, verdadeiras vítimas da vida e dos
acontecimentos. Estão sempre apontado o dedo para o próprio
nariz, talvez substituindo quem o fazia.

“Sentir raiva é um sentimento natural. Podemos ter raiva, o que não nos dá o direito de sermos cruéis com quem quer que seja”
Geralmente sentem muita dificuldade em impor limites, dizer não, para
evitar mais culpas do que já têm.
É muito comum nos sentirmos culpados quando magoamos as pessoas que amamos. Alguns magoam sabendo o que podem causar. Outros não têm a mínima consciência do sentimento que será despertado, podendo perceber muito tempo depois.

Seja o que for que aconteceu, analise o fato, as circunstâncias
que isso ocorreu e procure expressar seu arrependimento. Ter
raiva de alguém a quem devemos amar também nos induz a
culpa. Somos ensinados desde crianças que sentir raiva é errado
e mantemos essa crença por muitos e muitos anos. Sentir raiva é
um sentimento natural. Podemos ter raiva, o que não nos dá o
direito de sermos cruéis com quem quer que seja.

Há casos que essa culpa excessiva é gerada desde o nascimento
ou gestação, fazendo com que se sinta culpado apenas pela própria presença, como se estivesse “atrapalhando” os projetos da mãe,
do pai ou de ambos, impedindo o desenvolvimento deles.
Atrapalhou projetos ou os pais não se programaram para ter um
filho naquele momento da vida? É ainda mais acentuada em casos em que a mãe falece durante o parto, podendo gerar conflitos eternos.

Depois vem a culpa pelos filhos pequenos que são deixados no maternal ou com a babá, enquanto a mãe trabalha, gerando uma necessidade profunda de reparar essa ausência. Depois vem a
culpa pelo divórcio, onde um dos pais não tem mais o contato
íntimo com seus filhos e se culpa também pela ausência e busca compensar sendo muito permissivo, compreensivo, tendo dificuldades em impor limites, mesmo consciente que são necessários; muitas vezes compensando a ausência com bens materiais. Pode haver a culpa por quem decidiu pelo rompimento
da relação pelo sofrimento causado ao outro.

Há casos de abuso sexual durante a infância, maus-tratos e que, quando adultos, a pessoa se culpa por ter permitido tal abuso. Mas
é preciso entender que não há culpa alguma, não houve permissão, mas sim medo, inocência. Dificilmente uma criança vítima de algum tipo de abuso e maus-tratos busca ajuda. O medo sobrepõe-se ao sofrimento, por mais intenso que seja. Se você não sabia como se defender, como pode se culpar por isso?

Há a culpa pelo sofrimento que causamos a alguém, independente dessa pessoa já ter nos machucado anteriormente. Há a culpa reprimida, silenciosa, onde quem a sente não conta para ninguém. Acontece em geral quando há traição não assumida. A própria pessoa pode se lamentar em sofrimento, mas a outra nunca
saberá, apesar de que também há casos em que não se assume para o outro nem para si mesmo, nunca reconhecendo ou
assumindo o que faz.

A traição não é só sentida quando há uma traição pelo fato de ter mantido relações sexuais com outra pessoa, mas, principalmente, quando se trai a confiança, seja em qualquer área, profissional, afetiva, familiar, pessoal.

Há culpa por sentir-se feliz, por fazer algo para si, por não fazer nada, por dormir até mais tarde, por sentir prazer. Ou seja, a sociedade - e as normas por ela imposta - nos enchem de culpas
que dificilmente conseguimos nos libertar. Culpa pelo que não fizemos
Muitas vezes sentimos culpa por coisas que não fizemos, mas que por algum motivo nos induzem a nos culpar. Por exemplo, culpar-se pela morte de alguém, por um acidente que aconteceu sem sua intenção, por alguém ter ido embora.

Podemos nos culpar pelas palavras que não foram ditas, as atitudes que não foram tomadas, o cuidado que não tivemos, por falar quando deveríamos nos calar, calar quando deveríamos falar, ver quando não deveríamos ter visto, não ver quando deveríamos ter visto, tocar quando não deveríamos ter tocado, não tocar quando deveríamos tocar, ir embora quando deveríamos ficar, ficar quando deveríamos ter ido embora, aceitar quando deveríamos recusar, recusar quando deveríamos aceitar, sentir quando não devíamos sentir, não sentir quando deveríamos sentir. Enfim, são muitas as situações em que nos culpamos por não termos agido.

É aquela sensação de não termos feito tudo que podíamos ou o suficiente, por algo, alguém, uma causa. Pode ser forte após o falecimento de uma pessoa muito amada ao sentirmos que não fizemos tudo que poderíamos fazer enquanto estava viva. É o caso da filha que perde a mãe, e se culpa apenas após sua morte por
tudo que deixou de fazer por ela enquanto estava ao seu lado.

Se há culpa por terem abusado de você quando criança e não ter conseguido reagir, gritar, pedir ajuda, procure se tranqüilizar. Lembre-se que você era apenas uma criança coagida pelo medo e que não sabia reagir. Hoje poderá fazer outras escolhas e não mais permitir que o maltratem ou abusem de sua inocência e pureza,
não mais se escondendo de medo como criança, mas defendendo-se como um adulto que sabe diferenciar a verdade de um jogo de
poder e manipulação.

Numa separação é comum a culpa quando tomamos consciência
que não fizemos o que poderíamos ter feito para que a relação não terminasse. Há a culpa quando os dois pais trabalham ou um dos dois o cria sozinho.

Enfim, cada um sabe as culpas que carrega dentro de si. Seja qual for a(s) culpa(s) que sente, olhe(as) de frente. Perceba o quanto
está se permitindo continuar com fantasmas que apenas o torturam ao se cobrar o que fez ou não fez. Se perceber que realmente cometeu um erro ou injustiça, se for possível, peça desculpas, assuma seu erro, mas liberte-se de qualquer culpa que o esteja paralisando e fazendo sofrer.

Na próxima semana continuarei o assunto explorando a culpa que atribuímos e a culpa que nos é atribuída.



A culpa de todos nós! - Parte III


Culpa que atribuímos


É evidente que não me refiro à culpa que se impõe sobre quem cometeu um crime, ou alguma falta grave e que em função disso foi duramente culpado, condenado e punido. Refiro-me às culpas diárias que se somam durante nossa vida.

Muitas vezes fazer o que não queremos, ignorando nossos sentimentos e desejos geram a culpa que atribuímos. Acusar os outros é um hábito que muitos fazem sem perceber. Procurar
um culpado fora de nós se
tornou um hábito.

É importante cada um fazer uma análise dos próprios comportamentos, começando a se perguntar: “Tenho a tendência
a culpar alguém quando algo que quero, ou pretendo fazer, não acontece como espero?” Ou ainda: “em que situações culpo outra pessoa?”.

Quando culpamos alguém que nos induziu ao erro, que nos causou algum sofrimento, nos decepcionou, devemos nos perguntar até que ponto o outro foi realmente responsável por nossas próprias atitudes ou sofrimento. Por exemplo, se alguém nos dá um conselho de como devemos agir, cabe a cada um de nós decidir se é isso que desejamos.

As pessoas tendem a perguntar como devem agir para terceiros, esquecendo que todas as respostas para suas perguntas estão dentro de si mesmas. Mas é certo também que em algumas situações as pessoas falam suas opiniões mesmo quando não as pedimos. Em todas essas situações podemos sofrer as conseqüências dessas opiniões e, quando as aceitamos, tenderemos a culpá-la pelo mal que nos causou. Mas do que adianta culpar alguém? Isso realmente provocará alguma mudança ou reconhecimento pelo que fez?

A culpa que colocamos no outro pode ser uma projeção daquilo que verdadeiramente sentimos e pensamos sobre nós mesmos e não temos coragem de enfrentar e assim utilizamos mecanismos de defesa, onde negamos e projetamos.

Culpamos os outros por falharem conosco, por nos decepcionarem, magoarem. Mas, será que não somos nós que precisamos mudar
as nossas próprias atitudes, às vezes inconscientes, mudar as exigências e expectativas que impomos sobre nossos relacionamentos e nas pessoas? Quantas vezes não magoamos a
nós mesmos? Será que a culpa que tentamos atribuir a alguém na verdade não é nossa própria dificuldade em nos responsabilizarmos e projetamos no outro aquilo que não conseguimos realizar de modo diferente?

“Só podemos nos sentir "culpados" quando percebemos que fomos injustos conosco”
Mas, como não culpar o outro quando somos traídos em nosso amor, em nossa confiança? Como não culpar o outro que nos causa ou causou tanto sofrimento? Concordo ser extremamente difícil. Será que não havia sinais evidentes que o outro não estava mais tão interessado em nós e fazemos que não percebemos?

Sim, o outro poderia ter terminado antes, sendo sincero e assumindo seus próprios sentimentos e não o fez.

Seja o que for que nos machuque, devemos entender que nós
somos responsáveis por nós mesmos e ninguém mais. Muitas pessoas nos dão sinais evidentes que não são dignas de nossa confiança e por que insistimos em confiar? Para provar que estávamos certos em nossa intuição, desconfiança, ainda que paguemos com o preço do nosso sofrimento? Ninguém “culpa”
outra pessoa pelo que a ajudou. Isso nos mostra o quanto a culpa sempre vem carregada de sentimentos negativos, não trazendo o bem para ninguém. Alguém sempre terá participação nas dificuldades, como também nos êxitos, que nos ocorrem, mas é muito mais comum acusar alguém pelo que não fez ou pelo que machucou do que pela ajuda oferecida.

É muito comum também culparmos nossos pais por todas nossas necessidades e expectativas não realizadas. Por mais dificuldade
que podemos ter quando adultos, por mais que nossos pais não demonstraram seu amor como gostaríamos, é sempre bom
lembrar que eles nos deram a dádiva da vida, e apenas por isso serão eternos merecedores de todo nosso respeito e gratidão.

Quando buscamos entender nosso histórico de vida, relembrando fatos antigos, temos como objetivo encontrar a origem de nossas dificuldades atuais e não a busca por culpados. Devemos cortar
sim o cordão umbilical, e nos tornarmos independentes, mas isso exige que não esperemos mais de nossos pais, tentando
compensar o que eles não puderam dar em determinado
momento da vida deles, ainda que esse momento tenha durado alguns anos.

Devemos nos desfazer da imagem de como nossos pais deveriam ser, mesmo que não nos deram o que precisávamos, para que possamos encontrar paz dentro de nós. A idealização do que gostaríamos geralmente nos traz sofrimento. Claro que não só a idealização, mas também quando há abusos e maus tratos durante
a infância, trazendo também muito sofrimento, e é natural buscar nestes casos o “culpado”, saber quem o fez e porque fez. Mas se continuarmos presos ao passado através de mágoas, ressentimentos, culpas, julgamentos, vergonha, nos manteremos reféns desse passado.

O que quisemos, precisamos e esperamos que tenham nos dado
no passado, ou aquilo que esperávamos que não nos tivessem feito, podemos buscar em nós mesmos hoje. Se não nos deram amor, devemos buscar em nós; se não nos respeitaram, devemos nós mesmos nos respeitar. Se quisermos nos ajudar, devemos começar a nos olhar com sinceridade e honestidade. E ainda que possamos reconhecer a participação de alguém em qualquer mal que nos aconteceu, não podemos ficar parados como vítimas impotentes, mas devemos acima de tudo aprender a agir, não contra os outros, mas em favor de nós mesmos.

Quando somos injustiçados por alguém que detêm de alguma
forma o poder, ou aquilo que esperávamos que não nos tivessem feito, podendo ser pai, mãe, chefe, marido, esposa, nos atingindo pelas costas, por acreditar que o poder lhe dá esse direito, devemos lembrar que só esse direito será dele se o concedermos. Só se atinge pelas costas quando não consegue atingir de frente, olho no olho, e por mais poder que demonstre ter, não tem a coragem.

Pessoas com esse perfil raramente desejam perceber o mal que causam, simplesmente ignoram aos outros na mesma proporção
que ignoram a si mesmos. E por mais que desejamos que através
da culpa por nós imposta o outro reconheça, peça desculpas e
mude, dificilmente conseguiremos algum resultado se a própria pessoa não estiver disposta a olhar para dentro de si mesma.
Não devemos culpar alguém pelas atitudes que teve nem pelas
que não teve, cada um deve ser responsável também pelas idealizações feitas. Esperamos demais dos outros quando deveríamos esperar de nós mesmos, não das outras pessoas. Culpa que nos é atribuída

Geralmente acontecem quando não correspondemos às expectativas ou idealizações de outra pessoa. Muitos pais culpam os filhos por
sua infelicidade. Maridos culpam suas esposas por não serem compreensivas ou serem controladoras. Esposas culpam maridos
por não serem carinhosos. Os exemplos são infinitos. Somos sempre culpados por alguém quando não agimos conforme esperavam que agíssemos, e mais, somos culpados muitas vezes por não sermos como gostariam que fôssemos, mas também podemos ser culpados por aquilo que efetivamente fizemos ou não fizemos, mas que por conseqüência, machucamos e, ao nos culparem, também nos machucam.
Isso acontece porque geralmente as pessoas não conseguem assumir suas próprias atitudes e responsabilidade e culpam os
outros pelos mais diferentes motivos. Seja qual for o caso, devemos ser responsáveis por aquilo que nos cabe, evitando assim que nos culpem, ou ao menos, devemos evitar assumir tal culpa quando temos consciência que nada fizemos. E para evitar que essa culpa nos seja atribuída muitas vezes agimos contra nossos valores e também sofremos com isso. Fazemos aquilo que esperam de nós,
e não como gostaríamos de ter feito, tudo para não sermos
acusados e culpados. Muitos podem querer nos atribuir culpas, mas podemos decidir em aceitá-la ou não. Ainda que erremos em alguns casos, afinal somos seres humanos, não podemos atribuir a um fato nosso valor enquanto pessoa.

Pessoas que fazem com que nos sintamos culpados utilizam o
poder, o autoritarismo, a manipulação, o ressentimento e a chantagem emocional para conseguirem o que querem de nós.
Por isso que produzir culpa em alguém é algo muito cruel. Seria muito mais honesto que cada um se responsabilizasse e assumisse os próprios sentimentos falando sobre eles claramente ao invés de nos manipular através da culpa.

Devemos sempre fazer um questionamento se realmente magoamos alguém, e se for o caso, praticar da maneira mais humilde nosso reconhecimento nos desculpando e reparando o erro que cometemos. Só podemos nos sentir “culpados” quando percebemos que fomos injustos conosco, com nossas intenções mais honestas. Por isso que uma análise sincera de nossos comportamentos é necessária para não assumirmos culpas que não são nossas e para que possamos assumir a responsabilidade que nos cabe, cada um com sua própria consciência.

Precisamos aprender a deixar que o problema do outro seja dele e não nosso, quando não nos pertence. Somos sermos humanos que erramos mesmo quando buscamos acertar. Se alguém nos culpar
do que sabemos não ter feito, é problema dele. Mas, se nos permitirmos assumir essa culpa e nos magoarmos por isso, é problema nosso.

A culpa de todos nós!
- Parte IV


Crenças
O que causa culpa? Sentimentos, fatos, atitudes, situações, enfim, tudo que já exploramos nos artigos anteriores


A causa da culpa pode ser ainda
a certeza de estar sendo injusto com alguém, atacar quem não pode se defender, infringir certas regras e normas do que foi estabelecido ser correto.
Quanta culpa carregamos e que não nos pertence? Se você fez
a lista de culpas sugerida, leia novamente o que escreveu e agora perceba quais são as
culpas que sabe que não lhe pertence.

Carregamos apenas culpa por termos realmente ferido alguém,
ou também nos culpamos mesmo quando sabemos que nossas intenções nunca foram machucar, mas simplesmente porque
nossas ações não foram ao encontro dos valores de outra pessoa
ou porque transgredimos algumas regras das quais não concordamos?

E quantas outras vezes nos culpamos por fatos ocorridos no
passado, onde nossos valores eram outros, quando não tínhamos conhecimento nem maturidade para agirmos de outro modo?

“Quantas pessoas se culpam por não corresponderem ao padrão de beleza imposto pela mídia?”
A exigência que respeitemos algumas regras estabelecidas como corretas
nos induzem a culpa, por mais que
não concordemos com tais regras. Quantas pessoas se culpam por não corresponderem ao padrão de beleza imposto pela mídia?

Quantas pessoas se culpam ao enfrentarem o preconceito de uma sociedade que os rejeitam por serem homossexuais, deficientes físicos?

Quantas culpas algumas pessoas trazem por regras impostas pela sociedade, religião? Por que nos culparmos de valores que não são nossos? Quanta culpa sentimos por sermos rejeitados e abandonados? Quantas pessoas mantêm o casamento, apesar do sofrimento, somente para não se sentirem culpadas pela separação? Os motivos são infinitos...

A culpa está relacionada com certo, errado, com cultura e ética, de acordo com aquilo que convém ser considerado correto de acordo com a situação atual. Por exemplo, hoje em dia ficar grávida sem
ser casada é aceito e até incentivado pela mídia, mas há alguns
anos atrás era um verdadeiro afronto à família; assim como o divórcio, onde era imposto que por mais sofrimentos que houvesse, o casamento devia ser mantido, hoje é aceito naturalmente.
Ninguém é mais condenado a culpa por estar grávida ou ter optado pelo divórcio.

A educação, com suas regras rígidas, castradoras, repressoras, é muitas vezes a origem das culpas que carregamos, e como pesa!
Por exemplo, a culpa muitas vezes surge por crenças religiosas muito fortes, onde ainda se acredita que devemos ser punidos ao cometermos algum “pecado”. Em algumas religiões não é aceita
a relação sexual antes do casamento, o divórcio, os métodos contraceptivos, a homossexualidade, provocando culpas em quem não age de acordo com o que é considerado “correto”.

Muitas vezes obtém-se que o outro faça algo, não porque julga correto, mas através da manipulação, do controle, da submissão,
da autoridade, do poder. E se agimos diferente do que é esperado
de nós, acabamos por nos sentirmos culpados, e assim permitimos que sejamos punidos ou acabamos nós próprios por nos punirmos. Muitos acreditam que através de muito sofrimento podem, quem sabe, serem perdoados, absolvidos, mas até lá, há um extenso caminho de sofrimento, porém tido como merecedor.

A sexualidade é outra área em que a culpa gera muitos problemas, tanto pela repressão da religião e, principalmente, pela educação igualmente repressora e castradora. Ainda que os pais não tenham fornecido informações aos filhos, estes formaram preconceitos e crenças sobre sexo através de exemplos que foram observando, ouvindo no decorrer de seu crescimento, formando assim suas próprias crenças, porém contaminadas. Muitas pessoas nem percebem que alguns de seus conflitos e culpas referentes ao sexo têm origem não necessariamente naquilo que ouviram, mas no que registraram em suas mentes como certo.

Quantas pessoas engordam ou vestem roupas largas, soltas, para sentirem-se menos sedutoras, evitando chamar a atenção, por aprenderem desde crianças que sexo é sujo? Quantas pessoas não se permitem sentir prazer pela crença de que é errado? Quantas mulheres aceitam que seus companheiros tenham relações sexuais com outras mulheres, por acreditarem que estão pecando ao se permitirem sentir prazer? Até hoje quantos casais não conversam sobre sexo, mesmo quando há dificuldades sexuais, por preconceitos, tabus?

Assim, muitos comportamentos vão sendo controlados e, nós, manipulados e culpados. Isso acontece porque na verdade, poucas pessoas refletem sobre seus próprios valores e assumem os valores dos outros como seus. Resultado: culpa. Quantas vezes fazemos
algo e nem sabemos por que estamos fazendo? Será que a culpa
que carregamos existiriam se nos julgássemos pelos nossos próprios valores e não de terceiros?

Raramente paramos para pensar se nossos conflitos existem por nossa própria dificuldade ou se estes mesmos conflitos são gerados pelas culpas que assumimos quando simplesmente não agimos de acordo com valores que não são mais nossos ou nunca foram.

A culpa de todos nós! Parte V


Aspectos inconscientes


A culpa está presente na maioria das relações, sejam quais forem, mas não podemos deixar de refletir sobre alguns mecanismos inconscientes que acentuam e potencializam esse sentimento
tão devastador. Por exemplo, quando alguém faz algo que nos machuca, cometendo uma injustiça, tendemos a culpá-la. Nem sempre analisamos se ela nos machucou pelo o que ela fez realmente ou porque mobilizou situações que já vivenciamos
e preferimos esquecer; simplesmente a culpamos.

Mas temos que considerar que há alguns aspectos inconscientes
que podem tornar nosso sofrimento muito mais intenso.

Vamos entender um pouco o que pode acontecer nos casos em que culpamos outra pessoa, quando nos culpam de algo que acreditamos não ter feito e quando nós mesmos assumimos todas as culpas. Todos nós temos um histórico de vida, e reagimos de acordo com esse histórico e nem todas as pessoas com quem convivemos o conhece e muitas vezes nós mesmos não temos consciência de
tudo que já nos aconteceu, por serem conteúdos que se tornaram inconscientes. Quantas vezes percebemos que nossa reação foi desproporcional ao fato ocorrido? Quando culpamos alguém pelo
que nos fez e a pessoa diz que não sabia que aquilo iria nos machucar, pode ser a mais pura verdade.
“Tendemos a culpar o outro pelo nosso profundo sofrimento, quando na verdade nosso sofrimento foi causado por tudo aquilo que já existia dentro
de nós”
Cada pessoa irá reagir de acordo
com o que determinada situação irá encontrar dentro dela, ou seja, se já existem alguns registros anteriores
de situações semelhantes, ela poderá reagir pela soma de todas e não
apenas pela que acabou de acontecer.
Nesse momento serão mobilizados e desencadeados “traumas”, que já
foram vivenciados e que possuem
forte carga afetiva, que são os complexos.

O complexo afetivo é a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e que pode ser ativado em qualquer momento e do qual não temos o controle por ser um processo inconsciente. Assim sendo, um acontecimento pode ativar um complexo com a finalidade de descarregar a tensão emocional excessiva que está reprimida. Por exemplo, quando há vários registros de abandono,
e uma outra pessoa nos abandona mais uma vez, irá ativar esse complexo dentro de nós, quando podemos ter reações desproporcionais, pois não reagiremos apenas de acordo com o
fato atual, mas sim pela soma desse fato com os anteriores. E
dentro dessas reações, uma delas poder ser a culpa.
Tendemos a culpar o outro pelo nosso profundo sofrimento, quando na verdade nosso sofrimento foi causado por tudo aquilo que já existia dentro de nós e que nesse momento foi potencializado e mobilizado. Ou pode acontecer também de nos culparmos. Se há registros arquivados em nosso inconsciente, por exemplo, de rejeição, quando alguém nos abandona, além de culparmos o outro, também podemos nos culpar, sentindo como se tivéssemos feito
algo errado para justificar o fato de termos sido abandonados mais uma vez, ativando assim esse complexo.
O mesmo processo pode acontecer quando alguém nos culpa de
algo que fizemos. Na verdade, sem sabermos, podemos ativar complexos de situações difíceis de serem suportadas em função
de todo o histórico e somos acusados como culpados. Em todos os casos, a culpa pode nos dar o limite e elevar o autoconhecimento.
Por toda essa dinâmica é que encontramos casos em que a pessoa que nos machuca não percebe e nem aceita ser a causadora de nosso sofrimento, e o contrário também. É certo que esse mecanismo não justifica todas as situações as quais nos culpamos, culpamos alguém ou somos acusados como culpados.
Há momentos em que realmente não há a intenção de magoar,
nem sempre fazemos algo que sabemos machucar o outro, e nem sempre o que nos fazem teve como objetivo nos machucar. Mas devemos sempre considerar que as pessoas são diferentes e
reagem igualmente de maneira diferente, principalmente por não sabermos seu histórico e muitas vezes, não sabemos nem o nosso.
Quando machucamos alguém, e geralmente o fazemos com as pessoas que mais amamos, devemos explicar os motivos de nossa atitude, fazendo com que o outro entenda. Devemos também considerar que nossa limitação na compreensão de outras pessoas se deve pelo pouco que sabemos sobre nós mesmos.
Quando assumirmos a responsabilidade que temos sobre nossos sentimentos, não mais o projetaremos nos outros, e ao comunicarmos honestamente o efeito que o comportamento dos outros têm sobre nós, podemos criar um clima emocional possível
de um maior entendimento, mas é preciso muita honestidade,
acima de tudo, com nós mesmos. Contar toda a verdade para
outra pessoa pode ser um processo extremamente doloroso e assustador, pois corremos o risco de sermos rejeitados, porém ao mostrar nossos medos e vergonha, podemos encontrar o alívio
tanto desejado.
Quantos relacionamentos afetivos são frustrados quando esperamos atitudes que nunca vêem? Será que a outra pessoa efetivamente
tem dificuldades em expressar o amor que esperamos, ou será que ela não tem esse amor por nós? Essa resposta só o tempo, as atitudes, ou falta delas, poderá nos responder.
Outro aspecto inconsciente da culpa é quando nos culpamos por
algo que não nos foi feito diretamente, mas que nos fizeram sentir culpa. Para muitas pessoas é muito difícil haver uma coerência
entre o que pensam, sentem e o que fazem.
Alguém pode nos falar uma coisa e demonstrar outra. Por exemplo, quando uma criança pergunta para sua mãe por que ela está chorando e a mãe responde que não há nada ou que não está chorando, a criança percebe a incoerência entre suas palavras e aquilo que está sendo demonstrado. Isso pode levar a criança a se culpar. Por não ter como resposta à verdade, ela pode imaginar o que ela fez que machucou tanto sua mãe.
O mesmo acontece em casos de divórcio, quando nada é explicado para a criança. Em geral ela se culpa ao pensar ser responsável
pela separação. Ou ainda, quando uma pessoa fica doente ou
morre, e nada é explicado, a criança pode pensar que ela foi a culpada pelo ocorrido. Em casos de falecimento é muito comum encontrarmos a culpa também em adultos, quando começam a se cobrar por tudo que não fizeram pela pessoa enquanto estava viva.
Quando não há uma explicação lógica para os fatos e atitudes, ficamos por conta de nossa imaginação, sempre buscando explicações. Nos casos de separação, aonde um deles simplesmente vai embora sem explicar nada, aquele que fica tende a se culpar imaginando onde errou. Por isso que as mentiras em geral geram tanta culpa. Como muitas vezes não há coerência nas explicações, acabamos por imaginar o que quisermos. E a culpa acaba por
atingir mais ainda quem tem baixa auto-estima e pouco amor-próprio.
A verdade é que sob toda culpa há um ser humano tentando conseguir amor, reconhecimento e atenção, exatamente por não tê-los. Mas por que não buscamos esse amor por outros caminhos, quem sabe aprendendo a nos amar?


A culpa de todos nós!
Parte V
I


A família como origem



É muito importante que nos libertemos das culpas, principalmente as que se referem aos nossos pais; tanto das culpas que atribuímos a eles, como as que assumimos por termos ou
não termos feito algo por eles.

Do contrário, podemos repetir alguns conflitos vividos na família em nossos relacionamentos afetivos. Por exemplo, uma
mulher que teve um pai que a maltratava poderá se casar com alguém que também a maltrata; um homem que teve uma mãe autoritária poderá se casar com uma mulher igualmente dominadora.

Se há um pai e/ou mãe alcoólatra, independente do fator hereditário, podem se unir a uma pessoa também alcoólatra. Se houve um pai ausente, poderá ter um marido tão ausente como o pai. Isso acontece porque todos nós tendemos a repetir, quando adultos, alguns padrões de comportamentos que tivemos na infância, com
o objetivo de dissolver esses conflitos. Quando não conseguimos com nossos genitores, tentamos com nossos companheiros(as). Enquanto não identificamos esses
conflitos familiares, iremos repetindo-os. Por isso é preciso reconhecer nossas feridas sem fugas para não repetirmos os mesmos padrões que tanto nos machucam.
“Quantos pais deram a seus filhos a indiferença, o desprezo, a rejeição, o abandono e depois de anos desejam receber atenção, cuidado e amor? Como retribuir o que nunca foi recebido?”
É comum pai e/ou mãe desejarem impor suas vontades aos filhos ao fazer com que se sintam culpados, e para alcançar isso recorrem à autoridade, poder, repressão, cobrando que tenham atitudes conforme seus próprios valores, ignorando muitas vezes a individualidade de seus filhos.

É certo que alguns filhos exageram em seus comportamentos e também não respeitam seus pais; mas sabemos de muitos casos
os quais os pais não respeitaram seus filhos desde pequenos e depois, quando estes são adultos, são cobrados pelo respeito que sequer receberam.

O mesmo podemos dizer em relação a carinho, atenção, cuidado e amor. Quantos pais não deram nada disso a seus filhos e depois esperam receber? Quantos pais deram a seus filhos a indiferença,
o desprezo, a rejeição, o abandono e depois de anos desejam receber atenção, cuidado e amor? Como retribuir o que nunca foi recebido? Quantas culpas são geradas por essa cobrança interna
por não conseguir dar o que não tiveram? Mas será que esses pais tiveram dos pais deles?

Ninguém dá aquilo que não tem, apesar de ser muito difícil entendermos isso. Como culparmos nossos pais por aquilo que
não nos deram, se eles próprios não receberam e nem tiveram informações ou condições suficientes para mudarem a maneira de agir? Da mesma forma, como podemos nos culpar quando não conseguimos dar o que também não tivemos? Não podemos nos culpar e nem culpá-los, mas podemos procurar entender toda essa dinâmica e aos poucos ir dissolvendo as culpas através do longo processo da compreensão e do perdão.

Muitos pais geram adultos inseguros pelo excesso de zelo e preocupação, desdobrando-se em cuidados e atenção. A superproteção, onde o lema é “para seu próprio bem”, na verdade faz com que quem esteja sendo cuidado sinta-se incapaz de cuidar de si mesmo, pensar, realizar seja o que for, comprometendo assim sua auto-estima. É preciso muito cuidado para não dar ou realizar algo que é de responsabilidade e competência de outra pessoa, fazendo com que se sinta incapaz. E isso acontece com muita freqüência em muitos relacionamentos, não só entre pais e filhos, mas entre casais.

Quando há superproteção, na verdade, está se subestimando a capacidade do outro, como se ele não a tivesse ou ainda, para compensar a falta de amor, pelo outro ou por si mesmo. A proteção em excesso não traz crescimento algum. Superproteger é muito diferente de ajudar o outro a crescer, que requer acima de tudo respeito.

Nem todos os pais respeitam seus filhos, independente da idade.
Em muitos casos resolvem por eles, decidindo o que devem fazer, falar, sentir e se não corresponder ao que é esperado, inevitavelmente será culpado. É evidente que não estou me
referindo aos filhos ainda pequenos, apesar de que, estes também devem ser ouvidos e suas opiniões consideradas. Afinal, as relações entre as pessoas são baseadas na troca, seja de energia, carinho, afeto, amor. E quando um só lado decide, não há troca.

Alguns de nós aprendemos desde cedo que devemos ser responsáveis pela felicidade do outro, o que também pode causar muitos conflitos nas relações. É muito comum o pai, muito mais a mãe, acreditar ser responsável pela felicidade de seu filho, gerando muitos conflitos e culpas, pois nem sempre o que é ser feliz para uma pessoa será para outra. Podemos sim fazer o outro mais feliz com nossas atitudes, mas isso não quer dizer que sejamos responsáveis por sua felicidade, pois isso compete a cada um de
nós.

Presenciamos por anos mães abrindo mão de suas coisas, seus valores, suas vidas. Quantas vezes ouvimos quanto fizeram e, principalmente, quanto deixaram de fazer por nós? Como não sentirmos culpa diante de tanta dedicação? Essa ilusão em sentir-se responsável pela felicidade do outro, leva inevitavelmente a controlar, acusar, cobrar, produzindo a culpa. Desenvolvem-se assim, relacionamentos doentios, sejam entre pais, irmãos, amigos, ou nas relações afetivas. Quando não se sabe lidar com os próprios conflitos, alguns recorrem ao álcool, drogas, como fuga de uma realidade difícil de ser suportada.

Outra fonte de culpa é quando supervalorizamos o que outras pessoas falam e pensam sobre nossas atitudes, principalmente nossos familiares. Estamos sempre buscando reconhecimento, aprovação e querendo agradar, apesar de que muitas pessoas não percebem essa busca. E há sempre quem nos julgue, dê opiniões, mesmo quando não a pedimos.

Enquanto fazemos o que outras pessoas esperam que façamos para agradá-las, em virtude de nossa falta de amor-próprio, continuamos dando-lhes oportunidades de nos julgarem. Quem tem a necessidade de ser constantemente aprovado, reconhecido, acaba por ficar sempre na dependência de alguém.

Quanto mais nos culparmos por não sermos como gostariam que fôssemos, e assim, dignos de sermos amados, ficamos mais submissos, frágeis e dependentes. Quanto mais permitirmos que
nos impeçam de agir e pensar por nós mesmos, mais nos distanciaremos de nosso próprio desenvolvimento e crescimento,
de nosso verdadeiro eu, o self.

É certo que tendemos a nos culpar quando não fazemos algo por nossa família, pelos quais podemos e devemos colaborar, mas conforme a nossa vontade e afinidade, dentro da nossa capacidade de fazer ou aceitar; o que é muito diferente quando nos submetemos à vontade dos outros e ignoramos nossos próprios valores e desrespeitamos nossos sentimentos, isso não é ajudar, é perder o amor próprio.

Por que a constante busca em agradar, satisfazendo sempre as necessidades da família, amigos, e a culpa, toda vez que não conseguimos satisfazer a todos? Por que é tão difícil dizer “não”?
Na verdade, todos nós estamos sempre buscando agradar a
alguém para que percebam quanto somos bonzinhos, úteis, importantes e assim, esperamos que nos aceitem, e acima de
tudo, que nos amem e não nos abandonem.

No fundo esperamos que nos amem pelo que somos e não pelo
que gostariam que fôssemos. E isso pode ser a origem de muitos conflitos e culpas. O conflito é instalado pela dúvida, inconsciente,
em sermos o que realmente somos ou sermos como gostariam que fôssemos. Se formos quem realmente somos, não seremos aceitos, pois sabemos que não corresponderemos às expectativas esperadas e verbalizadas. Se formos como gostariam que fôssemos é porque não nos aceitam como somos.

Nos dois casos, não ser aceite implica não ser amado, e todo o círculo vicioso se inicia. Nosso inconsciente faz a seguinte leitura: “não serei amado se for quem sou e nem serei amado se for como gostariam, porque na verdade não sou eu. Se não sou aceito e nem amado é porque devo ser muito mau ou devo ter feito algo muito errado”.

Conclusão: culpas e mais culpas. E com a culpa sempre vem junto
a autopunição. Por isso temos tanta necessidade em agradar, para sermos aceitos e amados. E quanto menos conseguimos agradar, mais nos culpamos. Muitos conflitos e culpas poderiam ser evitados se “simplesmente” nos aceitássemos e aprendêssemos a nos amar.


A culpa de todos nós!
Parte VII – O perdão


A verdade é que a culpa nos faz permanecer no papel de vítima,
o qual não promove nenhum crescimento, apenas estagnação, doença e morte, pois contamina todos os relacionamentos, principalmente a relação que
temos com nós mesmos



Toda culpa nos traz a sensação que estamos errados, somos maus, destruindo nossa auto-estima e amor-próprio. Ao nos sentirmos errados, inconscientemente, buscamos
nos punir das mais diversas formas, nos destruindo, nos impondo sofrimento, adoecendo.
O assunto é tão sério que alguns estudos mostram que 75% das pessoas que sofrem de enfermidades estão punindo a
si mesmas.
A utilização do corpo pode ser um meio de autopunição através do sofrimento e autodestruição representando uma reação e defesa proporcionada pela culpa. Quando nos culpamos nosso inconsciente entende que realmente erramos e, como todos nós trazemos em nosso íntimo a conotação religiosa que, quando assim agimos, devemos pagar por nosso “pecado”, tendemos a nos punir das mais diversas formas. Uns adoecendo, outros se impondo o sofrimento. Tudo com o intuito de nos redimir de nosso erro, mesmo quando
não erramos, mas nos culpamos.
“Quando se culpar de algo, analise o
fato com os
valores que tinha
na época e que
provavelmente
serão diferentes
do quais têm hoje”
Outra forma de autopunição é o afastamento das pessoas, o isolamento. Nada fica, a não ser as culpas que causam doenças. Não é a culpa a única companheira do solitário, mas sim se torna solitário quem acredita na culpa, quem reprime a si próprio, quem se deixa levar pelas palavras e pensamentos da ignorância dos outros.
Quem entra no jogo daqueles que desejam exercer o poder, quem cede a chantagem emocional das outras pessoas, quem acredita que pode fazer aquilo o que é impossível ser feito.
A culpa é gerada por diversas situações, mas geralmente surge quando insistimos em julgar situações passadas com valores do presente. Ou, ainda, quando aceitamos a culpa que nos são atribuídas, mesmo depois de termos sido sinceros e concluirmos
que nada fizemos para isso. Você já percebeu que geralmente julgamos alguma atitude que tivemos no dia anterior, ou ainda, há dez ou vinte anos atrás com os valores que temos hoje?
Como podemos exigir que agíssemos ontem com a cabeça que temos hoje? Provavelmente qualquer situação analisada depois que aconteceu será compreendida de outra forma. Isso é sinal que, felizmente, evoluímos. Sempre agimos em conformidade com nosso estágio evolutivo e de acordo com aquilo que acreditamos ser o mais correto. Mas, se depois de dias ou anos avaliarmos uma atitude ou falta dela, com certeza avaliaremos de acordo com outros valores, os atuais. O que quer dizer, que houve evolução e, como, podemos nos cobrar que anteriormente pensássemos como hoje?
Todos nós mudamos. Isso quer dizer, que felizmente, evoluímos, crescemos. Quando se culpar de algo, analise o fato com os valores que tinha na época e que provavelmente serão diferentes do quais têm hoje, ao reavaliar a situação. Não se cobre o que você não sabia. O grau de responsabilidade deve sempre ser coerente com
as experiências vivenciadas. Não podemos cobrar aos outros, nem
a nós mesmos, experiências das quais não foram vivenciadas.
Ainda que as outras pessoas não queiram ou não estão preparadas para assumir suas próprias responsabilidades, devemos assumir as nossas responsabilidades. Nem que, para isso, seja necessário nos afastarmos de quem nos faz sentir culpa ou insiste em nos culpar do que não fizemos.
Apesar disso, evite culpar as pessoas com frases como, por exemplo: “você não me ligou...” Por que não assumir sua necessidade e dizer: “eu queria falar com você...” Ou ainda: “você nunca está aqui quando eu preciso...”
É muito diferente de: “eu me sinto só quando você não está aqui...”
Percebe a diferença? Ao invés de apontar o seu dedo para outra pessoa, assuma seus próprios sentimentos e necessidades.
“Quando se culpar
de algo analise o
fato com os
valores que tinha
na época e que
provavelmente
serão diferentes do
quais têm hoje”
Toda culpa oculta uma acusação e ninguém gosta de ser acusado, ainda mais se o for injustamente. Quando somos acusados, utilizamos mecanismos de defesa como a resistência e passamos a nos defender e, muitas vezes, agredimos, na mesma proporção que nos sentimos agredidos.
O melhor remédio para a culpa é perdoe-se e perdoe! O perdão é um dom e, acima de tudo, é compreender as dificuldades, nossas e dos outros, e isso requer auto conhecimento. Precisamos reconhecer que não é nada fácil romper o padrão de sentir-se culpado, pois
para algumas pessoas talvez seja muito mais fácil continuar a viver acorrentando por esse sentimento que aprisiona, destrói e aos poucos vai consumindo por dentro.
Esse é o caminho da acomodação, da zona de conforto de muitos ao ter que se confrontar com sua sombra, tudo aquilo que há dentro
de nós e que temos muito medo de enfrentar. A verdade é que ninguém quer ter o trabalho de mudar e, mesmo sentindo-se mal e com toda a angústia que a culpa proporciona, ainda a prefere como fonte de suas lamentações, mantendo assim seu papel de vítima
que oculta o desejo de atenção e amor.
Quando culpamos alguém estamos querendo que ele perceba que nos machucou e que sua atitude pode comprometer o relacionamento. Esperamos na verdade que pense, se arrependa e nos peça desculpas. A palavra desculpa pode ser utilizada por nós para com outra pessoa, ou de outra pessoa para nós em todos os momentos que um erro foi percebido. Desculpa quer dizer: “retira
a culpa que há em mim, pois reconheço o mal que causei, o erro que cometi”.

Quando há o reconhecimento verdadeiro do erro, deverá vir acompanhada não apenas do pedido através da palavra “desculpa”, mas da demonstração do arrependimento do qual acompanha novas atitudes, buscando uma reparação.
Alguns autores relacionam três desculpas mais freqüentes utilizadas:

1. “Eu não sabia o que estava fazendo”. Isso pode ser justificado em casos de doenças mentais, alcoolismo, adicção. Do contrário, sempre se sabe o que se faz, pois se presume que todas as pessoas têm noção sobre o certo e o errado, noção de valores e do que pode machucar o outro.
2. “Eu não pude me controlar”, que mostra haver algum traço de agressividade ou impulsividade;
3. “Eu devia estar louco quando fiz isso”. Evidentemente a pessoa pode saber o que fez, ter memória do fato sem, contudo, ter juízo crítico adequado daquilo que fez ou ter dificuldade em assumir seus próprios atos.
Quando há um pedido sincero de desculpas espera-se que o mesmo erro não seja mais cometido. Do contrário, o pedido de desculpas poderá se tornar uma rotina, assim como o erro. A única maneira
de atingirmos alguma transformação em nosso interior e em conseqüência, em nossas atitudes, vem da consciência do erro, não mais o cometendo. E não é nos culpando ou culpando alguém que conseguimos mudar ou provocar alguma mudança. Mas, sim, nos tornando conscientes de que estamos todos em constante aprendizado e, enquanto se aprende, se erra.
Errar é mais do que humano, faz parte da aprendizagem e durante nossa vida estamos sempre aprendendo. Essa conscientização acontece pela soma de nossas experiências vivenciadas através do tempo e nunca pelo medo. Afinal, respeito se conquista não se impõe. É muito diferente não fazer algo por respeito do que não fazer por medo de ser punido, abandonado, rejeitado, não amado.
Não podemos esperar de outras pessoas aquilo que não podem, não querem ou não têm para nos dar. É a aceitação sem julgamentos
dos nossos pensamentos e sentimentos que nos leva ao auto conhecimento a amor-próprio. Reconhecer toda a verdade da nossa experiência, seja ela qual for, exige coragem para aceitar o medo,
a raiva, humilhação, vergonha, tristeza, além de toda parte em nós que gostaríamos de reprimir e negar, aquilo que chamamos de sombra. Mas todo esse processo pode nos permitir aprender e crescer a partir dessas experiências, não mais nos culpando, mas nos responsabilizando por nossas próprias ações e mudanças.
Não tenho a pretensão de esgotar o assunto, mas proporcionar uma reflexão sobre a culpa que todos carregamos e atribuímos sem muitas vezes termos a consciência do mal que pode nos trazer. Explorar o assunto, e não negar, sobre as culpas que sentimos e que, proporcionamos, pode nos ajudar a nos libertar da prisão que ela nos impõe. A culpa, verdadeiramente, acorrenta e corrói nossa alma, nos paralisando e impedindo de encontrarmos nossa essência, nosso verdadeiro eu, o self.
Enquanto nos culparmos, estaremos indo contra ao que acredito
seja o sentido de nossa vida: a evolução! Mas quando conseguirmos perceber e aprender com nossos erros, e dos outros, cada um
tendo humildade e responsabilidade suficiente para reconhecê-los, com certeza estaremos todos no caminho da transformação e do crescimento! E é isso que almeja nossa alma. Você agora tem duas opções: continuar se culpando e/ou culpando alguém - e assim ficar estagnado - ou perdoar e/ou se perdoar – e crescer. Qual você prefere?

Coluna assinada por:
Rosemeire Zago

Psicóloga clínica com abordagem jungiana, especialização em psicossomática. Desenvolve o autoconhecimento e ministra palestras motivacionais. Contato: (011) 9950-5095

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