“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/Até quando o corpo pede um pouco mais de alma/A vida não pára. Enquanto todo mundo espera a cura do mal/E a loucura finge que isso tudo é normal/Eu finjo ter paciência./O mundo vai girando cada vez mais veloz/A gente espera do mundo e o mundo espera de nós/Um pouco mais de paciência”.
O trecho acima da canção “Paciência”, do cantor Lenine, parece sintetizar o mundo de hoje com uma precisão assustadora, em que a urgência das obrigações, a satisfação das necessidades buscada a toda prova, a pressa nas ruas e calçadas das grandes metrópoles, tudo põe em cheque a humanidade, que parece ter perdido o rumo próprio das coisas em alguma esquina da História.
E para falar sobre a paciência, elemento raro nos tempos atuais, abaixo um texto da psicóloga e psicoterapeuta Olga Inês Tessari, que trata da importância de possuir a calma necessária para as atividades cotidianas, bem como em lutar para alcançar objetivos. O famoso ditado “a pressa é inimiga da perfeição” nunca fez tanto significado como agora. Confira:
– Ter paciência pode significar uma virtude?
A paciência é mesmo uma virtude: é a capacidade de aceitarmos que nem tudo pode ser da forma como desejamos ou gostaríamos que acontecesse; é a capacidade de suportarmos determinadas situações ruins esperando/buscando o melhor depois. É também a capacidade de entender que todas as pessoas são diferentes entre si e que nem sempre elas nos entendem, desejam ou agem da forma como queríamos que elas agissem! Para viver e conviver em sociedade é preciso mesmo ter paciência: afinal, cada pessoa está preocupada em satisfazer as suas próprias vontades, os seus desejos e nem sempre o que uma pessoa deseja é o que a outra deseja e vice-versa. Além disso, é preciso ter a paciência de esperar que as coisas aconteçam da forma como devem acontecer, que nem sempre o tempo que desejamos e esperamos é o tempo de algo acontecer. Como está escrito na Bíblia, tudo tem o seu tempo: tempo de plantar, tempo de colher... precisamos saber esperar este tempo passar!
– O que pode explicar a costumeira falta de paciência das pessoas em alcançar objetivos, conquistar coisas, etc...?
Nascemos egoístas, viemos de dentro da barriga da mãe onde todas as nossas necessidades eram satisfeitas de imediato. Ao nascermos, passamos a descobrir, mesmo que seja a contra gosto, que o mundo não gira ao nosso redor, que nem todas as nossas necessidades são satisfeitas da forma ou no momento exato em que desejamos. Na medida em que vamos crescendo e convivendo com outras pessoas, percebemos que é preciso ser paciente para poder conviver bem com elas e sermos felizes. Pessoas impacientes, em geral, não sabem lidar com limites, costumam vir de famílias que, por excesso ou falta de amor, sempre satisfizeram as suas vontades enquanto crianças. São pessoas que não aceitam um não como resposta, justamente porque não aprenderam dentro de casa a lidar com este limite.
- O cotidiano que vivemos pode responder a essa impaciência?
De certa forma sim, porque estamos sempre correndo, sempre agitados, sempre sendo cobrados a fazermos algo imediatamente, sem muito tempo para pensar. Há determinadas situações que, ou decidimos de imediato ou perdemos a chance de algo bom para nós mesmos, embora, em geral, na maioria das vezes em que agimos por impulso ou por impaciência, costumamos ter mais derrotas, erros e sofrimento do que vitórias ou acertos.
- O que fazer para buscar um equilíbrio na vida que traga a tranqüilidade como algo permanente para poder realizar as coisas?
Em primeiro lugar, aceitar que nem tudo é da forma como gostaríamos que fosse: isso não é conformismo, mas aceitar aquilo que não pode ser mudado por nós mesmos, aquilo que independe de nossa vontade. Em segundo lugar, aceitar que problemas fazem parte da vida e que o melhor a fazer é resolvê-los de maneira que não tenhamos outros problemas futuros gerados pela impaciência de solucioná-los de imediato, sem refletirmos mais detidamente ou sem nos importarmos com as conseqüências de uma atitude impaciente.
0 Comentários
Quer dar a sua opinião?