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Você sofre por antecipação?

Se existe um sentimento bastante danoso e que desequilibra a qualidade de vida de uma pessoa é a ansiedade. Pode levar à comportamentos que interferem no andamento saudável da relação com o mundo. 

Uma das formas que encontramos de manifestação é o sofrimento por antecipação. São aquelas pessoas que desenvolvem todo um roteiro mental, geralmente pessimista, sobre uma determinada situação e sofre como se não existisse nenhuma outra possibilidade ou alternativa em potencial. 

Visualizam um cenário completo, vivem como se fosse absolutamente real aquilo que imaginam e se angustiam, se preocupam, sofrem com algo que está apenas em suas mentes e que talvez nunca aconteça, nem próximo do que imaginaram. 

Ela pode ter diversas fontes e dependerá da história de vida de cada um, mas uma base comum à quase todos é a necessidade de controlar o entorno, de ter controle sobre si, sobre os outros, sobre o mundo e sobre o futuro. Para essas pessoas lidar com o inesperado pode ser assustador demais, grande demais e na tentativa de não entrar em contato com esse sentimento, buscam antecipar com uma certa dose de angústia, o destino das coisas e de suas próprias vidas. 

Quando corremos para deixar tudo organizado demais ou quando temos pensamentos pessimistas sobre o futuro, temos o risco de sofrer duplamente. Na primeira etapa sofremos mentalmente, na nossa fantasia, na angústia sobre como será o futuro e na sequência podemos sofrer ou por não ter acontecido como queríamos, ou porque realmente o que temíamos aconteceu e nada pode ser feito para mudar. 

Quem vive assim torna-se refém de si mesmo, de suas angústias, de um funcionamento que compromete a vida. Viver deixar de ser um prazer, tornando-se um desafio pesado demais. Perde-se a leveza e a capacidade de lidar com o mundo como ele se apresenta. Aquele que antecipa demais sofre, e perde a chance de ser surpreendido pelas experiências da vida, boas ou ruins. 

Não há previsibilidade exata para situações futuras, pelo simples fato que muitos outros fatores estão envolvido, acima de tudo porque estar no mundo significa fazer parte de um todo muito mais amplo e complexo, incluindo forças que não apenas as nossas, mas também de todos aqueles com os quais nos relacionamos. 

Claro que antecipar não é de todo ruim, na vida existe a necessidade de minimamente organizarmos os próximos passos. É saudável fazermos algum planejamento, vislumbrarmos certas alternativas, nos prepararmos para o que desejamos ou até estarmos prontos para alguns problemas que sabemos poder acontecer. Entretanto, é fundamental ter bastante flexibilidade para quando surge alguma alternativa que não havíamos considerado ou quando algo acontece bem diferente do que gostaríamos. Caso contrário pode ser bastante sofrido, correndo os riscos de nos tornarmos prisioneiros de nossas próprias idéias e de um futuro sob o qual não temos nenhum controle. 

Viver é um imenso gasto ou podemos dizer investimento constante de energia, até quando dormimos e sonhamos colocamos a energia em funcionamento, ainda que em outro lugar. Portanto, esse gasto desenfreado com medos e preocupações nem sempre reais pode roubar a energia também necessária para o otimismo, para a esperança, para o sonho que é igualmente fundamental, pois é o que nos permite arriscar ao invés de apenas antecipar, de seguir adiante ao invés de só querer freiar. O medo, a ansiedade, o desejo exagerado pelo controle conduz à uma cegueira frente à vida, nos levando à construir lentes que nos fazem enxergar formas distorcidas demais que, quando vistas à olho nú, não são tão assustadoras ou grandiosas assim, diz 

Dra. Juliana Amaral PSICÓLOGA

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